sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

O tolo e a prova



Me vi estúpida. Não porque menti, mas porque tentei lhe convencer de que a mentira era verdade.
O tempo era exato, presente absoluto. No entanto, desviei covardemente de assumir a culpa que era minha, não pelo ato, mas pelo fato.
O que mais eu queria como prova da minha ilusão se não as inúmeras mentiras que eu mesma contava a mim e aos tolos que esperavam de mim uma verdadeira certeza da plena liberdade?
Mas isso não é de hoje, vem lá de trás. Não digo a culpa, mas o fato. Não, não o fato, mas a ilusão de que não se prova, mesmo que se possa provar.
Prova é uma palavra curiosa, pois serve tanto para experimentar, como para confirmar. Por isso é estúpido tentar provar, pois está do lado da tolice achar sentido na experiência.
Volto novamente ao fato sem ato, a prova experimentada, sem garantia de encontrar a medida exata que encaixa na conexão entre paladar e tato.
Lembro que eu deveria escrever um conto. Mas contar o que, o fato ou o ato? Qualquer coisa que se conte não contaria como registro exato, nem do ato, nem do fato, nem da culpa inexistente do responsável pela ousadia em usurpar de mim a necessidade de prova, provando e comprovando, experimentando e confirmando o que eu já sabia: nunca existiria ato, pois era fato, tudo não passara de uma ilusão da tola que fui por querer ser aquilo que já era.

Simone de Paula - 05/1/2016

Conto inspirado em: "Tolo é quem deseja uma prova do que não consegue perceber; Estúpido é quem tenta fazer o tolo acreditar." - O casamento entre o céu e o inferno, de  William Blake

Este conto participou do 1º Concurso Casarão de Minicontos. Infelizmente não ganhei, mas foi minha primeira participação em um Concurso Literário na vida adulta. 
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