A viscosidade do sangue se sentia na superfície macia. Era quente, de um vermelho forte, fechado, quase coagulado. Olhar pedia profundidade para distinguir o desenho dos traços que determinavam o quase marrom e o leve rosado.
Tirando um pouco de brilho, peso e densidade se perderam. Ficou o alaranjado enferrujado salpicado de brancos. Os opacos diluíram a massa vermelha de antes.
Um balde de alvejante lavou tudo, embranqueceu e criou pequenos poros, enrugando a superfície, amarelando o fundo em torno do qual se orientava.
Partido em dois, carregou o branco, mas buscou a fusão amorosa do rubro, crescendo tal qual rosa na primavera do jardim. O tamanho e a brutalidade revelam a potência viva da formação, separada dos demais, destacada o alinhamento.
Subindo em busca de novos encontros, misturou-se com a força do céu, do azul profundo, esverdeando o caminho. Simulando Jade, se mantém dura, resistente, persistente, de beleza inestimável.
Mas a opacidade e soberania do azul não quiseram mais dividir a atenção. Fechado em toda a intensidade do céu e do mar, sem limites, imortal.
E, não contente com a atenção que beirava a atração orbital, ainda se aprofundou mais, silenciou, fez anoitecer sem Lua, só filetes de estrelas cadentes cortando o firmamento.
Se consumiu na escuridão e se transformou na mística purple.
Sem conseguir brecar a dispersão iluminada, se tornou cristal, translúcido, renascido e por nascer.
Simone de Paula - 13/11/2020
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