sexta-feira, 25 de outubro de 2019

O dom de Orfeu

Hoje é dia de fazer uma declaração de amor.
Ganhei um Mercúrio em Escorpião e com ele a lembrança de Orfeu.
Orfeu que vagava pelos mundos infernais, implorando aos deuses que lhe pudessem devolver a mulher amada.
Orfeu, aquele que foi incumbido de usar sua lírica para que outros não fossem ao inferno, não sucumbissem à imagem e à miragem das sereias. Ele mesmo totalmente caído na mesma teia.
Orfeu, aquele presenteado por Apolo, com o dom da música e da poesia. E também foi marcado por Dionísio com o desejo e a paixão, ao encontrar Eurídice. 
Ele, tolo o bastante para acreditar estar nela tudo isso que pode sentir. Buscando desesperadamente reencontrar quem capaz de lhe manifestar.
Orfeu, que encanta e canta, também foi tocado pela morte e o desencontro que vem com ela. Não importa mais se os deuses lhe concedem o reencontro do amor, produzindo um novo retumbar no seu peito. Sentir a flecha de Eros atravessando o peito, é recordar a dor do punhal de Tanatos partindo o coração em dois.  Os ecos da morte nos assombram a cada novo amor. O que mais queremos encontrar nos chega maculado pela perda irreparável de quem achamos ser o dono, o portador do dom de sentir amor.
Eu mesma ia fazer uma declaração ao meu amor, que me abandonou um pouco e longe já não me permite encontrar palavras mágicas de invocação do que senti. Mas falei de Orfeu, e sua permanente falta, em Eurídice. 
Ele teria como cantar o desencontro, seu sofrimento por não mais ter a sua amada e sua insistente tentativa de reencontrá-la, se realmente pudesse deixá-la ir?

Simone de Paula - 24/10/2019







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