sexta-feira, 9 de novembro de 2018

A fenda

Cerrei as pálpebras levemente. O esforço não foi ali, nos olhos. 
A cabeça pesada, pressionada pelo intenso trabalho do corpo.
A imagem nítida forte, escura apareceu de surpresa. Não pela primeira vez, mas sempre inesperada. Uma fenda de luz amarela chamando para um outro lugar.
Interpretei como uma fresta em uma rocha, inicialmente foi isso que eu vi.
A luz intensa amarela foi ficando alaranjada, mais quente, me remetendo a lava incandescente escorrendo de uma rocha, talvez de um vulcão. 
Olhado sob nova perspectiva, o rasgo vibrante cor-de-laranja poderia ser um horizonte num por-do-sol, visto de longe, emoldurado por duas montanhas. Existia assim lá fora e aqui dentro.
Resolvi brincar controlando o foco do olhar, gerando assim duas repostas satisfatórias: vulcão, interior de uma caverna. 
Mas meu olhar não permitia meu controle e a luz avermelhada, aquela espécie de fogo, foi dando lugar a uma cor mais rosada, púrpura, e então roxa. Ficou mais escuro, a fenda foi se fechando. O rasgo de ponta a ponta se despedia, se consolidava com espaços escuros no traço do percurso até que tudo ficou preto. Cerrou!
Voltei relaxada, a cabeça leve e o silêncio preciso.


Simone de Paula - 6/11/18

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