A sexta-feira era de primavera. A temperatura quente
prometia uma tarde sofrida na metrópole agitada e barulhenta. De repente a
chuva, intensa, molhada, aliviando os corações. Naquela avenida movimentada,
carros e motos seguiam sem mudar a velocidade. As pessoas, essas também, não
mudavam o ritmo. Era sabido, ninguém mais se abalava diante de uma tempestade
imprevista. Chuva boa.
No ponto de ônibus as pessoas se espremiam, inclusive com
seus guarda-chuvas abertos. O casal de jovens, carregando o cachorrinho preto
pela coleira, voltava com a orquídea de presente embrulhada num saco preto. Os
pedreiros animados com o fim do experiente, alegravam-se com a promessa da
cerveja do fim do dia. O desespero do desempregado dá lugar ao delírio do
artista no palco, cantando no meio da avenida, entre o vai e vem dos carros, a
melodia de louvor ao deus que insiste em castigar os pecadores encarnados. Um
ônibus chega, alguns entram, seguem seu destino.
Simone de Paula -14/12/2017
Conto inspirado na cena urbana do dia 08/12/17, na avenida
Dr. Arnaldo em São Paulo, sentido Perdizes.
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