Helena
olhava as gôndolas do supermercado e tinha muita dificuldade em escolher o que
ia levar.
Pensava
que precisava de itens para o café-da-manhã, mas um pacote de torradas duraria
muito tempo e ela teria que comer as integrais mesmo querendo um dia ou outro a
‘sabor castanha’.
Notava
que nas prateleiras os produtos tinham se multiplicado muito, especialmente em
relação ao que tinha disponível na infância. Mas, ao mesmo tempo, ela achava
inviável comprar tantos itens pra uma pessoa sozinha.
Ela
gostava de ser single na vida. Não precisava discutir o filme que iria
assistir, nem o destino da viagem de férias. Mas pagava um preço alto por isso.
E era um preço de verdade, porque ser single custa mais caro do que ser double
ou family.
O modelo
social é o da abundância e ela não cabia nele. Parecia um peixe fora d'água,
visto que a sociedade não era receptiva com essa postura singular. Tudo é
massificado,
Ela não
tinha problemas de relacionamento, coisa que se poderia imaginar de uma pessoa
que opta por estar sozinha. Tinha família, irmãos, amigos e até uns
namoradinhos de ocasião. Só não queria dividir casa, comida e roupa lavada com
ninguém. Desde quando começaram a imaginar que optar por viver sozinha era algo
ruim? Aliás, isso acontece especialmente com as mulheres, porque homens vivem
só e ninguém se ocupa muito de atribuir-lhes solidão, pelo contrário. No máximo
fofocam sobre a sexualidade deles. Enquanto as mulheres são dadas como 'chatas,
rabugentas'. Que meio difícil!
Helena
não queria mudar nada em grande escala, pelo contrário, queria poder viver nas
pequenas escalas. Inclusive, transformaram a lógica das escalas, como se a
natureza das coisas fosse do tamanho family e devessem ser divididas caso se
quisesse menor. O tamanho single nem tinha existência e pela excentricidade
dele. Deveria ser criado especialmente para esses seres estranhos que vivem só.
Naquela noite,
no supermercado, Helena percebia mulheres e homens sozinhos com suas comprar.
Pelos produtos nos carrinhos sabia quem era sozinho e quem estava ali comprando
para um casal ou uma família. Ela notava, porque os poucos itens tinham cara de
que eram grandes demais para o desejo dos consumidores, mas na falta de coisa
melhor, escolhiam o mais básico. Se vai durar mais, que seja o menos
específico.
Helena
chegou em casa, abriu a janela e ouviu o barulho de fora e o silêncio tranquilo
de dentro. Não ela não tinha nem cães, nem gatos, só a sua própria vida para
ser vivida num mundo feito para grupos.
Simone de
Paula - 26/07/2016
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