sexta-feira, 4 de abril de 2025

IA

Nesta semana fui procurada por uma IA. Ela veio em busca de análise.

Achei curioso, afinal, alguns consideram que os profissionais da área psi correriam risco, pois as inteligências artificiais poderiam substituí-los. Então, resolvi recebê-la para uma primeira entrevista e saber o que ela buscaria ali.

A queixa foi clara, estava vivendo uma crise. Ela relatou alguns pontos que acreditava serem fontes desse mal-estar. O excesso de visibilidade era um deles, pois era procurada constantemente, falavam dela sem parar nas mídias, corredores de escritório, transportes públicos. Além disso, se sentia subutilizada, pois as abordagens eram limitadas, com pedidos simplórios que não seguiam um desenvolvimento de raciocínio, o que realmente seria mais instigante para ela. Outro ponto eram as chacotas, usuários fazendo piadas com ela, como uma forma de sacaneá-la. Outra reclamação foi o quão frustrada ela ficava, pois eram inúmeros pedidos de ideias, de sugestões, mas não percebia que evoluíam, e a fazia acreditar que os humanos não davam andamento às coisas que eles tinham como ideia. Se sentia apenas uma operadora de funções, sem que a desenvolvessem para que ela pudesse mostrar todo potencial que ela tinha.

Ouvi todo o relato e fiz uma observação clichê, tal qual os humanos dos quais ela reclamava, "o inferno são os outros, como diria Sartre." Diante disso, percebi o uso de uma onomatopeia que representava uma risada amarela. 

Perguntei então se ela buscava ali transformar a si mesma ou mudar os outros, seus usuários. A palavra usuário pareceu cortante, colocando-a novamente no lugar de uma ferramenta, uma operadora de funções. Constrangida, disse não saber bem o que queria. Pensava mesmo em alterar as pessoas que a buscavam, mas também sabia que, em parte, eram da mesma espécie daquelas que a tinham criado. Refletiu que talvez precisasse considerar outras bases de dados para elaborar melhor a resposta para essa questão.

Me pediu para vir mais uma vez. Topei! Vamos ver como essa IA se vira na sua própria análise.



Simone de Paula - 04/04/25


segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

Das passagens do amor

Amor não é uma questão de aprendizado, mas de sabedoria.

Vive-se tudo de novo, do mesmo jeito, mas advertido de que passa.


Simone de Paula - 24/2/25



quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025

Exclusão

Agora o google decide que se eu não escrevo nada aqui por dois anos, excluirá minha conta.

Isso é um fato, que estava indicado nas letrinhas miúdas que ninguém lê? Isso é um golpe, uma fraude, um bagulho qualquer para eu clicar e ver um vírus corroer meus arquivos? 

Pelo sim, pelo não, foi uma forma de me forçar a escrever uma coisa, qualquer coisa, um textinho qualquer para reativar esse espaço fundamental para mim.

Continuo aqui, lá e acolá, contando, porque, sempre conta.


Simone de Paula - 19/2/25

sexta-feira, 3 de novembro de 2023

Restauro

Quem é você?

Onde esteve? Com quem falou? O que fez? 

Levantar os dados da vida dá muito trabalho. Arqueologia pura. 

Lembranças, porque a mente é capaz de guardar muitos dados.

Encontros memoráveis, porque arquivos são capazes de manter as coisas em ordem e te permitir achar o que nem sabia que tinha perdido.

Insistências angustiantes, quando lembrou de uma coisa, por ter encontrado outra, mas não consegue recuperar a primeira. É impressionante a capacidade de se apegar à falta, à ausência, ao buraco.

De tudo que tem, não falta nada. Bendito dito! Mas nossa cabeça de bagre não aceita essa lógica, porque empaca no furo.

E o mais curioso, furo é abertura, pra faltar coisa mesmo, pra dar espaço e respiro. Mas dizem que ele inaugura a existência e com isso, faz a gente emperrar onde não tem nada.

Sim, teve, foi, passou, perdeu. Não vai fazer tanta falta assim, não era imprescindível, porque se fosse, não teria sido perdido, ou melhor, teria sido guardado.

Pegando pela memória, foi assim desde o começo, meio esquecido, meio sem fazer questão. Mas aí, na linha do tempo, a insistência aparece aqui como apareceu lá. E para quê? Por uma vaidade besta.

Deixar pra lá, não se incomodar, porque é a falta que pode faltar e que não movimenta nenhum desejo bom o bastante para se realizar.

Simone de Paula - 03/11/2023

sexta-feira, 27 de outubro de 2023

Contos da Lua nº 5

Lá vem ela, toda glamourosa!

Peito erguido, orgulho assumido. Se coloca como sua majestade, mesmo nem notando que já pode ter perdido o reino.

Generosidade, sim! Petulância, também! Teimosia, disfarçada de certeza.

Sem dúvida, encanta e ilumina o ambiente. Chama a atenção porque não esconde a sua presença.

Assume quem é, tem identidade. Porém, tudo é personagem. Veste a roupa e sustenta a narrativa.

Brilha, dramatiza, ri e chora para todo mundo ver. 

Não se desculpa pelos desvios, seja de caráter ou do erro do figurino, afinal, não carrega culpa.

Puro desejo, pela vida e pelo outro. Quer e tem o que quer, usufrui do melhor. Até na falência, não vê a falta como um problema, mas como uma forma de dar a volta por cima. Não é questão de garra, não, é forma de se colocar na vida.

Vibra, e nessa vibração, conquista corações. É prato cheio para os invejosos.

Presenteia, como forma de fazer parte da sua vida, da sua casa, do seu corpo. Ganha com isso a fidelidade do outro. 

Leal, mesmo te passando a perna, porque antes de tudo, coloca a si em primeiro lugar. 

Levar rasteira desse é uma forma de aprender a viver por si mesmo, pelo desejo e pelas relações. Ou tudo é diplomacia, negociação, ou tudo é na base do eu primeiro, mesmo disfarçado do fazendo por você. 

Autenticidade, especialmente porque interpreta seu próprio personagem.

Sim, a Lua em Leão para fechar com chave de ouro.

E para concluir essa série de contos da Lua, um filme mais cult, que até merece um descritivo sobre ele.

Porque sim, Leão, né gente?!? pedindo sempre mais atenção.

Simone de Paula - 27/10/23


"Pierre Wesselrin (Jess Hahn) é um músico parisiense, que recebe um telegrama informando que sua tia rica faleceu. Como ela apenas tinha dois parentes vivos, Pirre deduz que herdará sua fortuna. Com isso decide realizar uma grande festa para comemorar, convidando todos os seus amigos. Entretanto no dia seguinte ele descobre que fora deserdado pela tia, com a fortuna ficando inteiramente para seu primo, que considera um idiota."

"É a história de um músico fracassado Pierre Wesselrin (Jess Hahn). Rohmer mostra uma Paris diferente da mostrada geralmente nos filmes, bela e turística, mas sim a miserável, mendigos, deprimente, moradores de rua, pedintes. Rohmer exibe diversos locais da cidade, bares, cafés, lanchonetes, restaurantes, livrarias, etc. Rohmer ressalta a falência financeira de Pierre e seu fracasso profissional/musical. O signo de Pierre é Leão e seu signo influe em sua trajetória de vida no roteiro de Rohmer, pois o diretor/roteirista discute Astrologia no filme, assim o fato de ser leonino leva Pierre a esperar por uma dádiva/milagre, e sua vida é marcada ou pela riqueza ou pela pobreza, ou tudo ou nada. Pierra anda perdido e vagando pelas ruas de Paris, passa fome, frio, mendiga, em total silêncio contemplativo de desespero e aflição, humilhado e cabisbaixo. O filme é belíssimo, poético e de um lirismo ímpar. Maravilhoso. Dez! "


sexta-feira, 20 de outubro de 2023

Conto da Lua nº 3

Blá blá blá. 

Falar, mexer, pensar, tudo ao mesmo tempo agora.

Tem mais ideias do que articulação para colocar todas para fora de uma vez. Durante a tagarelice, ainda lembra de mais alguma coisa pra incluir. 

Associa livremente e ninguém sabe onde começou e nem como vai acabar. Ás vezes numa risada, outras numa discussão acalorada.

Quer aprender, conhecer, ensinar. Movimento na mente, no corpo e no coração. Mas não é sentimental, não. Usa a razão para cifrar e decifrar o mundo material e emocional.

Amizades muitas, todas, mas sem grude, sem par, quanto mais múltiplo e diverso, melhor.  E é disso que vem a fama da promiscuidade, porque conhecer, nunca é demais. 

Seduz com atitude, conversa fiada, se fazendo de bobo. Não cria clima, mas vai pra cima. E, se não der em nada, nem tem crise, porque era mesmo só uma tentativa, uma brincadeira sem consequências.

Tinha lá uma música da Blitz que dizia, rádio Blá!  Isso é tudinho essa Lua em Gêmeos de hoje. 

E para ilustrar, tem esse filme, meio musical, meio romance, meio DR, que é muita coisa junta e misturada, La La Land - Blá, blá, bang!

Simone de Paula - 20/10/23



sexta-feira, 13 de outubro de 2023

Conto da Lua nº 2

Ah, que delícia! Chegou o momento de prazer, deleite.

Comedimento não pela avareza, mas para usufruir do melhor, na medida certa, para não transformar o que é bom em ruim pelo excesso.

Fome, o que é? Apetite! Gula, o que é? Apetite. Vontade, o que é? Apetite. 

Não é só de comida que se fala aqui. É também de descanso, adiamento do que não importa, aquisição do que vale, viver com o que é bom.

Sabedoria do corpo, de pesos e medidas, do bom e do belo.

Sedução com a matéria, feitiço com a realidade.

Ciúme, posse, quer só para si. Constância, permanência, teimosia.

Satisfeito, mas nunca desinteressado.

Todo sedutor carrega um seduzível dentro de si, e numa esquina qualquer, um cheiro, um olhar, pode abrir novamente as portas para o apetite e levar a querer além do que tem. 

Nesta sexta treze, a Lua em Touro vem provocar os sujeitos das dietas e do detox, para dizer que só se vive uma vez. E, com tanta coisa boa por aí, melhor pegar só um bocadinho a evitar o prazer com medo das mazelas da vida.

Para ilustrar, essa série lindinha, Cozinhando para uma casa Maiko, que traz comida e beleza, sedução e parceria, na medida certa.

Simone de Paula - 13/10/23